Um amor é sempre  inteiro, não cortado em pedaços

A parte que falta





O contexto desse texto é tecer idéias e   refletir sobre esses  amores que vamos encontrando por aí, nas nossas vivências. Quantas vezes nos fazemos em pedaços para manter inteiro um amor que é só ilusão, existindo na nossa fantasia, na nossa projeção?

Como diz Marisa Lajolo, nas minhas tardes  de Pedagogia, todo texto traz um contexto.

Do alimento em excesso ao amor, pensemos nesse último,  no dia de hoje, pois pode ser causa e consequência de um peso corporal além do normal.

É necessário terminar  um relacionamento tóxico, se esse é um peso a mais, pois  a fragilização do próprio Self pela vamprirização que o outro efetua é um assunto inadiável. Precisamos cuidar disso. Acontece com analisandos que procuram terapia para  suas dores de amor.

Observa-se que os amores tóxicos não trazem a sensação de completude que procuramos   e nesse sentido de falta,  como náufragos, os sujeitos  se agarram  a tábuas de salvação, sentindo  as ondas da vida, tal como oceano revolto, arrebatando seu corpo, seu amor próprio, seu intelecto e até mesmo a capacidade de acreditar em si mesmo, na sua sanidade mental.

Ao se fortalecer,  percebe-se  que precisa deixar esse amor num porto qualquer da vida e seguir adiante, ainda que a ausência do outro incomode  por vários dias...

Ao acordar  na manhã seguinte, busca-se o cheiro do café e os passos do companheiro trazendo a primeira xícara do dia... Silêncio.  As mãos não estão entrelaçadas sobre o lençol,  como me disse certa vez um paciente,  símbolo de união que não traduz o que está verdadeiramente no coração.

Sentir a solidão, o vazio e a finitude... Sentir o gosto amargo do luto.

Ao levantar-se, lentamente, sente  que a vida ainda estava ali e encaminha-se para o banheiro. Ao olhar no espelho, vê as marcas de sofrimento em seu rosto e seus olhos lacrimejantes.

A xícara de café transforma-se em um poderoso veneno que gradualmente, tira a força da vida e o amor por outras coisas dignas e merecedoras.

Então lembra-se. Lembra-se que está em pedaços e que precisava tecer, um a um, os pequenos pedaços da sua alma estilhaçados por aquele amor, que talvez nem merecesse esse título. E costurar algo muito importante que se chama vida.

Então, alguns buscam refúgio no alimento, buscando quem sabe, o conforto e o cuidado da mão que alimentou na primeira infância.



E outra vez, tranforma-se em ser  infante,  pois aquele amor /desamor nos deixa sem palavras, sem fala. E instalou-se um silêncio amargo, que não é curativo, mas doloroso, pois é a renúncia da desistência.

Somos seres da falta, sempre haverá um pedaço sem encaixar-se, a sensação de um vazio que vez ou outra nos incomode.

E não há no mundo nenhum amor ou pessoa que nos complete integralmente.

Ah, o amor... quando se ama, precisa-se  sentir-se inteiro, não em pedaços. Precisa ter a coragem necessária de perdoar, até o ponto que se percebe que o gozo do outro é o nosso desequilíbrio. É um preço muito caro a pagar.

Então, a consciência disso traz uma sensação nova que brota  de dentro do coração, um sentido de pertencer-se , uma estima por si mesmo, o amor próprio. Essa conscientização vem através do autoconhecimento, da terapia...

E momentaneamente, sentir-se inteiro e cuidar para não despedaçar-se de novo por outro amor...

 Se precisar, busque ajuda, livre-se de pesos desnecessários.

 

 

 

 

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